domingo, 10 de dezembro de 2006

tipo folgada

Vou escrever sobre o cansaço. Não o cansaço de estar trabalhando há 12 dias seguidos, sem folga. Sobre o cansaço de pessoas. Pessoas folgadas, mais precisamente.
Ela sempre foi e continuará sendo uma espécie de gente egoísta. Faz quase tudo sozinha, só pra não dever favor para os outros.
Mas como toda boa egoísta, ficava com a consciência pesada. Virava e mexia, tinha a sensação de que deveria ser mais "boazinha".
- Eu sei que você está ao lado da sua casa, que são 3 da manhã, que você vai acordar cedo pra trabalhar, mas custa você me levar até o Morumbi?
- Custa....
E o "custa" virava um martelo na cabeça dela no dia seguinte. Pensava:
- Poxa, custava você sair do seu caminho às 3 da manhã, bêbada, e levar a menina até o Morumbi?
Pronto, era o bastante para acabar com o seu dia.

- Você pode trabalhar até mais tarde hoje pra mim porque eu marquei de tomar uma cerveja com o paquera novo?
- Putz, nem vai dar. Eu também marquei manicure daqui há 5 minutos. Aliás, tchau!
Pronto, e ela virava o monstro!
- Ai, coitada, é paquera novo. Se eu não fizesse a unha hoje, só ia arrumar tempo pra fazer na semana que vem, mas o que é meu esmalte descascando perto do paquera novo dela? Ela deixou de sair com ele por conta da manicure que eu não quis desmarcar.

- Queridinha, posso pegar o elevador social com o meu cachorro? O de serviço tá demorando muito. Devem estar tirando o lixo.
- Não, não pode. Eu não quero descer no elevador com o seu cachorro. Eu tenho medo de cachorro e não vou ficar nesse cubículo com ele por 12 andares. Espere o de serviço. Ou saia mais tarde.
Lá vinha o martelo de novo na sua cabeça. E ela falava pra ela mesma:
- O que custa o cachorro descer pelo social? Como você é egoísta. Ele nem morde. Coitada, o de serviço está demorando.

- Eu sei que macamos às 10, mas eu ainda não estou pronta. Atrasei um pouco, de novo. Você não quer achar uma vaga, subir e esperar eu terminar a chapinha?
- Puta que pariu!! Aqui, nessa rua, onde não tem uma vaga pra estacionar, onde eu vou ter que dar 2 voltas no quarteirão, parar o carro, guardar o rádio, me anunciar para o porteiro, esperar o elevador e subir pra ficar no sofá esperando voê terminar a chapinha? Faz o seguinte: eu vou indo e nos encontramos lá.
Custava esperar a sua amiga alisar pela décima vez o cabelo?

Pessoas folgadas! Pessoas que sempre dão um jeito de fazer com que a culpa seja dos outros. A culpa é sua que não esperou, que não quis pegar o mesmo elevador, que não deu carona às 4 da manhã, bêbada, que não desmarcou a sua manicure. É uma gente que sempre que levar alguma vantagem em cima de você. Sempre quer ser mais esperta, mais malandra.

Tem uma frase que a deixava bem irritada: me liga.
- Eu sei que te magoei, mas quero conversar. Me liga.
- Ora, me liga você! Pegue o telefone e me ligue. Se é você que quer conversar, me ligue você.
Era o tipo de gente folgada, que sempre pedia coisas para os outros. Pedia até para o outro decidir quando teriam tal conversa.

- Será que você pode achar pra mim o site da Receita e ver se minha restituição caiu?
- Mas você está na frente do computador. Eu também não sei o site. Procura aí.
- Mas custa você procurar? É só ir no google.
- Custa...

É um tipo de gente folgada!

9 Comments:

At 1:10 AM, Blogger Paulo C. said...

Sartre disse: "O Inferno são os outros". Se não tivesse dito mais nada, já seria gênio só por essa frase.
Alguns amigos me chamam de Urtigão, me comparando a um personagem de quadrinhos; um eremita que vive sozinho numa caverna e que expulsa com um bacamarte daqueles de carregar pela boca, todos os que se atrevem a querer chegar perto. Aceito o apelido e o ostento com orgulho.
Mais modernamente, me identifiquei muito com Shrek, o Ogro. Ele só queria ficar sozinho no seu lindo pântano, pra não ter que conviver com folgados de todas as naturezas.
Também detesto folgados, como esses que você descreve tão bem, e minha ira cresce na mesma medida em que minha culpa vai ficando cada vez menor por recusar a carona, não cobrir o plantão do outro, não permitir que o cachorro desça no elevador social, etc... etc...
Totalmente solidário com você!!!!

 
At 8:39 AM, Blogger Priscila said...

E eu queria ter ao menos 10% de ti. Porque sempre me ferro por pensar SEMPRE primeiro nos outros...

 
At 10:45 AM, Anonymous Anônimo said...

Hahaha, eu tava num mau humor do cão qdo escrevi isso ontem. Mau humor de cansaço, mas, prinicplamente pq a história da carona ficou martelando na minha cabeça o dia todo. Acho uma sacanagem as pessoas serem folgadas! E acho mais sacanagem ainda as pessoas folgadas serem acomodadas e acharem que é sua obrigação fazer por elas. Eu fico com uma p... consciência pesada depois!
beijos

 
At 10:48 AM, Blogger Ju said...

Ah, a inspiração veio daqui:
www.blonicas.zip.net

 
At 12:03 PM, Anonymous Anônimo said...

O irônico desse texto é que quem ficou irritada foi vc, quando na verdade vc não deveria nem dar bola, pq gente folgada não merece irritação. Tem pessoas que acham que os outros sempre têm obrigações de fazer alguma coisa por eles.

 
At 5:17 PM, Anonymous Anônimo said...

nossa! me identifiquei muito com essa culpa toda. vc tb é de touro? deve ser! mas existe uma saída: o treino. treino de planejamento antecipado (claro!) anti-folgados. exemplo: coloque aquela sua "amiga" que quer carona num táxi. finja que procura o site da Receita, demore horas, não ache. ela nunca mais vai pedir esse tipo de "favor". e assim a gente vai se virando, sem culpa. lembre-se que culpa dá rugas e insônia, e insônia dá olheiras, e olheiras espantam gatinhos, e com gatinhos aquela "amiga" não vai poder pedir pra vc sair mais tarde. por que? ora porque SEU gatinho vai estar te esperando.
Carioca.

 
At 5:05 PM, Anonymous Anônimo said...

Sou capricorniana.

 
At 5:43 PM, Anonymous Anônimo said...

Nunca havia reparado se eu era um monstro ou não. Eu até devia ser, pois nunca me passou pela cabeça "ah, aquela pessoa foi gentil comigo. Tenho que devolver a gentileza". Até que um dia uma pessoa folgada (que sempre me pedia coisas, e eu sempre dizia sim) fez assim como você. Aquela pessoa me devia muito, muito, e quando eu, pela primeira vez pedi alguma coisa,simplesmente olhou pra minha cara e falou: "Não. Eu sou um monstro". Eu sempre me fazia de monstro por puro orgulho, mas quando alguém foi comigo, confesso que até hoje não consigo olhar aquela pessoa com os mesmos olhos. Agora, eu cuido muito bem com quem vou ser gentil. Não se preocupe se não ficou mais cinco minutos trabalhando pelo paquera novo da colega, como sabe se ela também não é um monstro? Eu também sempre tive esse dilema entre fazer ou não favores. Agora eu sou assim: só deixo o cachorro entrar no elevador da pessoa que um dia já ficou me esperando fazer chapinha...

 
At 2:01 PM, Anonymous Anônimo said...

Ufa!!! Que alivio...
Convivo com uma irmã folgadérrima, emprestei casa pra ela morar do meu lado. E ainda fica jogando o filho pra mim cuidar, mais quer tudo do jeito dela, e quando vê que não faço faz um bico, se fecha e posa de vitima. Stop né?

 

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