quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Resoluções

Pra ela já não tinha mais jeito. Aquela história tinha chegado ao fim. Acabado, dançado, subido no telhado.
Ela ficava mau humorada, porque lembrava que ia encontrá-lo, que passaria horas com ele, que ia ter que suportá-lo a semana toda, o mês, o ano, quiçá a vida inteira.
Estavam juntos há dois anos. Tinham vivido várias coisas, tinham crescido, superado crises, já tinham dado um tempo, ela já tinho ido viajar pra tentar esquecer um pouco, mas mesmo assim não conseguia falar.
Como ela ia chegar assim, do nada, e dizer:
- Olha, pra mim já deu. Tô enjoada de você, do seu jeito, das suas manias. Tô cansada de passar os fins-de-semana na sua companhia. Não quero mais aturar as suas neuras com horários, dinheiro, intrigas. Sabe, na verdade, eu gosto de você, mas quero viver outras coisas. O problema é comigo. Eu te ligo qualquer dia.
Ela não podia fazer isso. Ou podia? Ela não sabia como agir. Ele tinha sido legal com ela no começo. Quando ela precisou, naquela fase crítica da vida dela, no sufoco, ele falou:
- Vem cá, eu te dou colo.
Mas isso já fazia tempo. E agora eles já se conheciam bem, e ela não suportava mais conviver com os defeitos dele. Implicava com tudo. Tudo mesmo. Era o bode, o famoso bode. Coitado, ela pensou. Coitado nada. Ele me sugou, me trouxe rugas, me fez chorar, me levou de volta ao psiquiatra. Quis tirar meus amigos de mim. Me queria só pra ele, aquele egoísta, o tempo todo, em todos os feriados.
Mas coitado. Eu estive com ele em todos os momentos ruins. Não posso abandoná-lo agora que as coisas estão melhorando. Ele me proporciona tanta coisa boa. Egoísta sou eu. E tem mais: e se nenhum outro me quiser? E se não me acharam interessante o suficiente? E se minha vida sem ele despencar num poço sem fundo? Preciso ter um na manga, aí pelo menos vou me garantindo assim.
A cabeça dela já estava entrando em curto-circuito. Não tinha calmante, chá, passiflora ou livro ruim que a fizesse dormir. A mente ficava lá, matutando, tentando uma solução.
- Eu preciso confiar no meu taco. Preciso pensar em mim. Ai, Deus, me ajuda.
Deus também já era apelar demais. Isso não era coisa pra Deus resolver, ela pensou. Tarô? Também não. Desde quando ela acredita em tarô? Pai- de- santo, melhor amiga, manicure? Alguém tinha que ajudá-la a encontrar uma solução. E quanto mais palpite davam, mas confusa ela ficava. Ela só tinha certeza que não dava mais. Mas não sabia por um fim naquilo.
Até que ela pensou mais um pouco e antes da cabeça dar um nó, ela concluiu que aquilo não passava de um emprego. Não era um casamento, um namoro. Era só um emprego. E ela queria mudar. Só isso.

12 Comments:

At 10:29 PM, Anonymous Anônimo said...

Ju
O que é mais difícil? Acabar namoro, casamento, ou sair do emprego? Isso tudo é fácil. O difícil, Ju, é a gente mudar por dentro o que tem que ser mudado. Nossa relação mais difícilo é com a gente mesmo.
Bjo!

 
At 12:06 AM, Blogger Lili said...

Vc já foi casada, minha flor? Não? Então, não se preocupe: esse emprego aí já te ensinou todo o enredo! rs
Um beijo!

 
At 12:40 AM, Anonymous Anônimo said...

É certo que vc arruma outro emprego. Não tenha a menor dúvida em relação a isso. Inteligente desse jeito, só trouxa não te contrata. Isto é, se a pessoa do texto for vc, né. Mas como acho que é, aqui vai a campanha: arrumem um emprego pra Ju!
uma beijoca

 
At 9:47 AM, Anonymous Anônimo said...

Ano novo, emprego novo! Pra nós!
;-)

 
At 10:49 AM, Anonymous Anônimo said...

também tô pensando nisso. seriamente. não só mudar de emprego, mas mudar de área. ser feliz e ganhar dinheiro. quer uma sócia?

:)

 
At 11:53 AM, Blogger Vanessa said...

Eu quero mudar de emprego, escrever full time. Esse ano, eu faco isso! bjs

 
At 6:42 PM, Anonymous Anônimo said...

Fui "casada" com meu emprego anterior por 4 anos. Amava e odiava simultanemante. Criei coragem e chutei o pau da barraca há exatamente um ano atrás. Me arrependo e dou graças a Deus até hoje, praticamente todos os dias...

 
At 10:03 PM, Blogger Ju said...

Paulo, não é fácil, não...
bjs!

 
At 10:03 PM, Blogger Ju said...

Lili, não fui casada, não. Ainda não.

 
At 10:09 PM, Blogger Ju said...

Anônimo, que remunere bem, me deixe livre nos sábados e domingos, e me sobre tempo pra ir ao médico, dentista, massagista, cabelereiro, shopping!

Clari ro, amém!

Dani, se vc conseguir essa proeza, quero sim!

Vã, resoluções de ano novo! É quando a gente quer mudar!

Kelen, é fo....go!

beijos

 
At 3:19 PM, Blogger Unknown said...

Eu pedi demissão após longos anos.... e não tinha nada em vista. Tive decepções e no fim acabei indo trabalhar em uma revista, pela metade do que eu ganhava. Estou mais feliz do que nunca... e quando as pessoas me perguntam "Esse trabalho é melhor?" eu falo que sim... acho q se confunde muito o trabalho com o salário.... ehheheheheheh... acho q nõa tenho vocação pra ser rica... gosto mesmo é de fazer o que me agrada.

 
At 5:22 PM, Anonymous Anônimo said...

Fran, eu sou o contrário de vc. Tenho vocação pra ser rica, de preferência muito rica. Só falta o dinheiro, porque onde gastar eu já tenho planejado!
bjs

 

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