sábado, 16 de dezembro de 2006

30 de maio de 2006


Se ela contar pra melhor amiga, a melhor amiga vai achar que é louca. Se ela contar pra aquela amiga mais ou menos, a amiga mais ou menos vai dizer que ela tá carente. Se ela for na cartomante e perguntar, a resposta vai ser: minha filha, calma, o homem da sua vida ainda está por vir... Se ela decidisse tentar achar respostas na sala da terapia, ia se sentir ridícula.
Mas o fato é que ela não consegue esquecer daquele homem, aquele mesmo que ela só viu por 20 minutos. Aquele que mexia o copo de whisky e não tirava os olhos dela, enquanto ela bebia uma long neck no gargalo. Aquele com o casaco marrom, que olhava pra ela sem parar enquanto ela ajeitva o cachecol de patchwork da vovó. Aquele mesmo que ela passou do lado quando estava indo embora e ouviu um: - oi, já vai? Fica mais um pouco - com um sotaque que dizia que ele não era daqui, e por isso, talvez, fosse embora no dia seguinte. E então ela não foi, ficou mais um pouco, um pouco suficiente pra ela ver o quanto ele era bonito, pra ver que o telefone que ele tinha dado tinha muitos números e começava com 00, e que com certeza ele não era daqui. E que talvez nem fosse desse planeta. Não podia ser desse planeta um homem daqueles!
Nesse dia ela estava muito bonita e outros homens também tinham pedido pra ela ficar mais um pouco: - Toma mais uma cervejinha...- Mas ela não quis nenhum, quis o homem do outro planeta, o que ia embora no dia seguinte, porque ela tinha certeza que ia encontrá-lo de novo.
Conversaram mais um pouco, dessa vez na calçada, enquanto ela esperava o carro e ele, talvez, um taxi. Ele insistiu pra ela ficar mais um pouco com ele, mas ela não quis. Nem conhecia o cara! E ele nem era desse planeta. E foi embora. Com um beijinho no rosto dele. Ela não lembra se foi um ou dois beijinhos, mas lembra que ele mais alto que ela uns 20 cm. Perfeito, ela pensou!
No dia seguinte ele ligou. Ela estava atolada de trabalho e nem ouviu o celular tocar. Ele ligou de novo. Aquele monte de número apareceu na tela e ela correu pra atender. E ele já estava longe, no mundo dele. Mas querendo falar com ela. E ela também queria falar com ele. Falar sobre a vida, sobre as coisas, sobre nada. Como se ele ligasse todos os dias, há anos. Como se falar com ele fizesse parte da rotina dela.
E eles passaram a se falar sempre. Já não era mais sacrifício pra ela acordar meia hora antes pra conversar um pouquinho no msn. Nem mau humor mais ela tinha de manhã. Não era sacrifício pra ele burlar as regras do trabalho e instalar um msn. Porque era bom falar com ela, era bom ela estar por perto. E o telefone dela tocava. E eles conversavam sobre o tempo, sobre a Copa do Mundo, sobre a praia, sobre fuso horário, sobre o Brasil, sobre tudo.
Um dia, como toda mulher que se preze, ela quis saber o signo dele. Capricorniano, como ela.
- De que dia?
- 16 de janeiro.
- Mas quem nasceu em 16 de janeiro fui eu!
- Eu também.
Os dois já não entendiam mais nada. Além de tudo, tinham nascido no mesmo dia?
Se naqueles tempos, Deus perguntasse se ela queria ganhar na megasena ou encontrar com ele de novo, ela saberia a resposta. Porque ela tinha certeza de que 20 minutos tinham sido muito poucos.
Naquela noite, só os loucos saíram de casa. Os loucos e os corajosos, porque a cidade estava às moscas depois de mais um ataque do PCC. Os loucos, os corajosos e as pessoas que por algum motivo, precisavam se conhecer. Algum motivo inexplicável, que na cabeça dela, pode ter sido uma simples coincidência ou obra do destino. Nem ela sabe. Só o que ela sabe é que nunca mais se viram e nem se falaram, e que daqui há um mês os dois estarão comemorando seus aniversários. Cada um no seu mundo. Cada um com seus presentes, com seus wiskhies, suas cervejas.
A vida dela continuou, outros homens ficaram com ela por muito mais que 20 minutos, o telefone dela tocou e ela não conseguiu atender porque estava atolada de trabalho, ela saiu em algumas outras noites frias e perigosas, mas ela nunca entendeu porque conheceu aquele homem. Ela não quer entender, ela só queria encontrá-lo.
E outro dia, assistindo The Lake House no quarto dela, ela chorou. Talvez de cansaço, talvez porque estava naqueles dias, talvez porque natal deixa ela assim, chorona mesmo, ou porque, talvez, ela é capricorniana, mas não é tão fria quanto parece. E porque ainda busca respostas para a pergunta que faria a cartomante. Mesmo não acreditando em cartomantes.




14 Comments:

At 2:27 PM, Anonymous Anônimo said...

Que lindo que é falar de amor.
Falar de amor que dói,
de amor que dá certo,
de amor que não dá em nada.
Mas falar de amor faz bem.

 
At 2:38 PM, Anonymous Anônimo said...

Voltei pra comentar mais um texto, saido do forno, pelo visto:
Quem é esse homem que não quer uma mulher dessas? Faz o seguinte: no dia do seus aniversários, tome uma champanhe acompanhada de um bofe maravilhoso e nem lembre desse trouxa!
Parabéns pelo texto. Brilhante, lindo, lindo, lindo, assim como você que é sucesso absoluto!
Renatinho

 
At 3:55 PM, Blogger Paulo C. said...

Êêêêê, Ju. Tá fértil, hein. Quanto texto bonito! É muita dor ou muita felicidade, isso?!!!

 
At 10:44 PM, Anonymous Anônimo said...

Ela é ela ou ela é você?

 
At 9:36 AM, Anonymous Anônimo said...

Eu faço aniver dia 30/05!

 
At 10:21 AM, Anonymous Anônimo said...

Eu sempre leio seus posts e nunca comento. Mas agora vou te dizer uma coisa: vc deveria pensar seriamente em escrever um livro, trabalhar numa revista, fazer alguma coisa ligada a leitura, porque vc escreve o que as mulheres querem ouvir.
Meus parabéns, Ju.

 
At 10:35 AM, Blogger Mônica said...

e por que eles não se falam mais?

 
At 10:35 AM, Blogger Mônica said...

e por que eles não se falam mais?

 
At 12:20 PM, Blogger Pri Tescaro said...

Será que eles vão se falar no dia do aniversário de ambos??? Tomara que ele faça uma surpresa!!

Beijos,
Pri T.

 
At 12:58 PM, Anonymous Anônimo said...

Será que ele é o homem do destino dela?

 
At 1:25 AM, Anonymous Anônimo said...

Ju
Uma vez recebi um email seu com o link daqui. E sempre veio ler, mas nunca comentei pq nao entendo nada de blog. Mas conheço essa história um pouco e não pude deixar de me emocionar com ela... Vc é realmente incrível, soube por no papel um sentimento tão verdadeiro!
Um beijo, querida

 
At 11:35 PM, Blogger Lili said...

Que coisa mais bonita, Ju...Uma solidão tão doce, cheia de poucas esperanças...Você escreve contos lindos, não me canso de lê-los. Beijo carinhoso!

 
At 7:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Ju, desculpe a indiscriçao mas não entendi nada. Você tirou essa historia da cabeça ou ela aconteceu? Ela é alguém ou é vc? Se for história inventada tá ótima de criatividade. Se ela for vocE, parece que vc tem uma história entalada e mal acabada aí dentro desse coração. Fiquei triste por voce...
um beijinho

 
At 1:16 AM, Blogger Ju said...

Foi só uma historia.....

 

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