quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

O inevitável

Era sempre a mesma coisa: as mãos começavam a suar, o corpo tremia, ela pensava se devia ou não fazer aquilo, apesar de saber que era necessário. Dava uma vontade louca de fumar, de parar a vida e congelar o mundo, mas não tinha escapatória. Aquela coisa que ela não gostava nem de dizer o nome, tinha que ser feita.
E lá foi ela. Digitou www.meubanco.com.br, colocou a senha, fechou os olhos, respirou fundo e clicou em EXTRATO.
Era uma coisa meio colorida, metade em azul, metade em vermelho, mais vermelho do que azul, uns poucos sinais de + e vários de -.
Ela sabia que precisava fazer mil contas, pegar o canhoto do talão de cheques, checar os boletos que estavam pra vencer, olhar a fatura do cartão do cartão de crédito e mandar ver. Não tinha outro jeito. Caloteira ela não queria ser. O que papai iria pensar?
Então ela parou e começou a rever tudo que tinha gasto e em como era bom ter pra poder gastar. Lembrou daquela blusinha caríssima que ela não tira mais do corpo, lembrou daquele interurbano que ela deu e desligou feliz da vida, das cervejas que tomou no bar com as amigas, fofocando, falando de homem, de sexo, de inimiga, de novela e de BBB. Lembrou da viagem que fez e que era a grande responsável pelas cores vermelhas do extrato e respirou aliviada. Mais pobre, ou menos rica, mas aliviada.
Pensou também em como foi burra em abastecer o carro no posto daquele ladrão, em entrar naquela loja em liquidação e comprar aquele sapato que dói o pé, em dar um presente pra amiga falsa que não merecia nem parabéns, quanto mais presente, e sentiu raiva dos gastos desnecessários.
Mas a vida era assim mesmo. Ela fazia como todo mundo. E seu extrato bancário era reflexo das suas atitudes e das suas vontades.
No mês seguinte seria tudo a mesma coisa: o frio na barriga, o suor, o desejo de ganhar na megasena e de olhar qualquer coisa, menos a conta no banco. Ela iria, novamente perguntar:
- Que cheque é esse de 105,67??? Eu nunca dei cheque com 67 centavos no final!
- É a mensalidade do seu estacionamento, que você paga todo mês.
- Ah, é mesmo. Pago isso todo mês...






domingo, 25 de fevereiro de 2007

Ser mulher parte 7


Pra ela pouco importava se a Preta Gil era gorda, cansada e filha do ministro. Ela não estava com vontade de fazer críticas ao seu desempenho carnavalesco. Ela também não estava muito preocupada se a Juliana Paes era mais bonita que a Grazi. Achava as duas lindas. Se o Junior da Sandy estava em cima ou embaixo do trio também não era problema dela. Ele estava se divertindo? Que bom.
Ela passou pelo carnaval sem dar uma sambadinha, sem sair do chão, como a Ivete pedia, sem descer nenhuma vez na boquinha da garrafa e sem tocar num confete sequer. Mas não porque não gostava da folia. Aliás, ela adorava a palavra folião. Achava interessante quando ouvia.
Mas ela era uma mulher que, depois de muito tempo, havia conseguido se livrar do menino da regata vermelha, do que não bebia cerveja pra não engordar, do que marcava encontro e não ia buscá-la em casa, do que só queria sexo e do que só queria conversa. Ela havia, finalmente, encontrado um amor. Numa hora em que ela não buscava nada além de um emprego novo.
E mulher apaixonada é aquela coisa. Acha tudo lindo. Até a Preta Gil se torna interesante. Mau humor matinal? Quem, ela? Nunca mais. Medo de não ter ninguém pra matar barata? Imagina, ele matava. Planos pro futuro? Agora ela tinha. E tinha vários. Estava conseguindo até economizar dinheiro, uma façanha e tanto!
Passou o carnaval na mesma praia de sempre. Mas poderia ser carnaval, semana santa, finados. Ela nem se lembrava da data. Olhava tudo com outros olhos. Aquela árvore sempre esteve ali? Nunca tinha visto. Essa rua sempre teve essa curvinha? Nunca tinha reparado. Os pássaros cantam assim toda manhã?
Seus sentidos estavam mais aguçados. Ela não achava mais graça em ler crônicasa de mulheres modernas em busca do homem perfeito. Aliás, ela não tinha mais inspiração para escrever, porque só queria falar de amor. Estava sensível demais pra falar sobre a violência, sobre o presidente, sobre o carnaval e sobre trabalho. Ela só queria amor. E preferiu não escrever mais por um tempo, porque sabia que mulher apaixoanda virava mulherzinha boba e sem assunto!

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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

Tá difícil engatar a primeira e voltar a escrever. Idéias não faltam, mas voltar de férias numa semana e na semana seguinte começar o carnaval faz o tempo ficar muito curto!
Volto, definitivamente, assim que a quarta-de-feira de cinzas acabar! Lá pra quinta.. . ou sexta!

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Quando a inspiração voltar, eu volto também!