2007
- Que bom que o senhor tá chegando, sr. 2007. Sempre preferi os ímpares.
- Olha, minha filha, eu não entendo nada dessa coisa de números.
- Eu também não, Seu 2007. Outro dia ia fazer minha numerologia, mas me pediram um depósito de 180 reais e eu deixei pra lá. Só sei que sou 3 no aniversário e 6 no nome. Comunicação e família, uma coisa meio complexa.
- Só o que eu sei desse negócio de número é que nunca vou ser bissexto. Posso ser 2007, 2009, 2011, e sempre terei 365 dias. Nem um a mais, nem a menos. Isso é bom?
- Depende. Às vezes, um dia a mais é tudo que a gente quer. Em outras, o que a gente pede é que o dia acabe logo. É a vida, Seu 2007...
- Mas você me encontra assim, chegando, e nem vai fazer uma promessinha?
- Não vou. Sou péssima pra promessa. Eu minto pra ela. Falo que vou cumprir e nunca cumpro. Sou assim desde criança. Prometi uma vez, na sexta série, que se passasse de ano, subia de joelhos a escada da Penha. Nem sei onde fica a igreja da Penha, mas vi na TV e achei bonito pedir.
- Minha filha, acho que você deveria pedir lucidez, porque você é um pouco louca.
- Não sou, não Seu 2007. Só um pouco sincera demais. Olha, tô começando achar seu nome bonito: Dois Mil e Sete! Nome pomposo, de homem. Não essa coisa sem graça de Dois Mil e Seis. Garanto que essa tal de 2006 é mulher. Tem cara de mulher, nome de mulher, jeito de mulher... Não deixou nenhum homem comigo por muito tempo, esse aninho vagabundo, ops, vagabunda.
- Eu sou 2007, com Dois maiúsculo, macho. Olha meu 7: é esbelto, alto, com ombros largos. E esses dois 00 são poderosos... Bom, deixa pra lá, senão você vai ficar tímida quando eu falar dos meus 00. É um pouco pornográfico. Eu sou realmente o máximo, dizem as mais antigas, 1995, 1996.
- Você ainda encontra com elas? Manda um beijo meu. Adorei 2005. Ano realmente bom. Eu não precisava trabalhar, empurrava a faculdade com a barriga, viaja, tinha um namorado ótimo, o melhor de todos até hoje, meu pais ainda eram casados, minhas irmãs ainda eram solteiras. A família era grande, seu 2007.
- Mas vem cá, você não vai pedir nada mesmo?? Eu tenho que me apressar pra fazer a virada em Copacabana, depois ir pro Reveillon do Faustão, depois dar uma passadinha em Trancoso pra tomar champanhe, zarpar pra uma rave em Santa Catarina, e de manhã estar em Angra, pronto pra começar a viver!
- Então, não se preocupe comigo, Sr. 2007. Eu não quero nada. Quer dizer, quero muito, mas nada que eu não possa fazer sozinha: parar de fumar, arrumar um emprego novo e um namorado decente, essas coisas. Obrigada pela conversa. Seja bem-vindo. E que 2006 vá pela sombra!