terça-feira, 26 de dezembro de 2006

2007

- Que bom que o senhor tá chegando, sr. 2007. Sempre preferi os ímpares.
- Olha, minha filha, eu não entendo nada dessa coisa de números.
- Eu também não, Seu 2007. Outro dia ia fazer minha numerologia, mas me pediram um depósito de 180 reais e eu deixei pra lá. Só sei que sou 3 no aniversário e 6 no nome. Comunicação e família, uma coisa meio complexa.
- Só o que eu sei desse negócio de número é que nunca vou ser bissexto. Posso ser 2007, 2009, 2011, e sempre terei 365 dias. Nem um a mais, nem a menos. Isso é bom?
- Depende. Às vezes, um dia a mais é tudo que a gente quer. Em outras, o que a gente pede é que o dia acabe logo. É a vida, Seu 2007...
- Mas você me encontra assim, chegando, e nem vai fazer uma promessinha?
- Não vou. Sou péssima pra promessa. Eu minto pra ela. Falo que vou cumprir e nunca cumpro. Sou assim desde criança. Prometi uma vez, na sexta série, que se passasse de ano, subia de joelhos a escada da Penha. Nem sei onde fica a igreja da Penha, mas vi na TV e achei bonito pedir.
- Minha filha, acho que você deveria pedir lucidez, porque você é um pouco louca.
- Não sou, não Seu 2007. Só um pouco sincera demais. Olha, tô começando achar seu nome bonito: Dois Mil e Sete! Nome pomposo, de homem. Não essa coisa sem graça de Dois Mil e Seis. Garanto que essa tal de 2006 é mulher. Tem cara de mulher, nome de mulher, jeito de mulher... Não deixou nenhum homem comigo por muito tempo, esse aninho vagabundo, ops, vagabunda.
- Eu sou 2007, com Dois maiúsculo, macho. Olha meu 7: é esbelto, alto, com ombros largos. E esses dois 00 são poderosos... Bom, deixa pra lá, senão você vai ficar tímida quando eu falar dos meus 00. É um pouco pornográfico. Eu sou realmente o máximo, dizem as mais antigas, 1995, 1996.
- Você ainda encontra com elas? Manda um beijo meu. Adorei 2005. Ano realmente bom. Eu não precisava trabalhar, empurrava a faculdade com a barriga, viaja, tinha um namorado ótimo, o melhor de todos até hoje, meu pais ainda eram casados, minhas irmãs ainda eram solteiras. A família era grande, seu 2007.
- Mas vem cá, você não vai pedir nada mesmo?? Eu tenho que me apressar pra fazer a virada em Copacabana, depois ir pro Reveillon do Faustão, depois dar uma passadinha em Trancoso pra tomar champanhe, zarpar pra uma rave em Santa Catarina, e de manhã estar em Angra, pronto pra começar a viver!
- Então, não se preocupe comigo, Sr. 2007. Eu não quero nada. Quer dizer, quero muito, mas nada que eu não possa fazer sozinha: parar de fumar, arrumar um emprego novo e um namorado decente, essas coisas. Obrigada pela conversa. Seja bem-vindo. E que 2006 vá pela sombra!

segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

A vida como ela é

E ela passou a semana toda repetindo o mantra:
- Vou caber no vestido, vou caber no vestido, vou caber no vestido...
Porque ela tinha (!!!) que caber no vestido e porque ela queria comer peru, bacalhoada, pernil, rabanada e todas essas coisas que o Natal proporciona.
E lá foi ela para a ceia na casa da titia. Magra.
Todos os tios, os primos, as crianças, a tia-vó... todos se entupindo de castanha, nozes, queijo, vinho, coca-cola, cerveja quente.
A tia-avó já ia fazer 88 anos, mas se mantinha lúcida e sempre vinha com o mesmo papo:
- Sem namorado de novo, filhinha?
- Sim, tia.
- Ah, olha minha filha, eu rezo muito por você. Você vai encontrar alguém, esteja certa. Capricorniano casa tarde mesmo....
- Pois, é, tia.
- Hein? Olha filha, você tá muito bonita. Engordou, tá rechonchudinha, com o rosto mais redondinho!
- Eu, tia? Nããão, eu não tô gorda, não. Acho que a senhora está enxergando mal, tia.
- Não, filhinha. Você está linda. Andava muito magra. Não pode, senão vai ficar igual aquelas meninas que morreram outro dia daquela doença de gente que não come. Mulher magra demais é feio, filhinha.
O primo, aquele que acha que trabalhar dá trabalho sentou no sofá e interrompeu a conversa:
- Nossa, você está linda, hein. Fiu, fiu! Esse vestido deve ter sido muito caro! Você ganha quanto por mês?
- Hã? Como? Quanto eu ganho?
- É , você tá com cara de rica. Tá faturando, hein? Hahaha....
( Hahahaha? Você nunca trabalhou e quer saber o valor do meu salário, seu sem graça?)
- Ah, tô super rica, ganhando muito, mas pense num muito assim, muito mesmo! Então, pensou? É quanto eu ganho!
Ela precisava dar uma mentidinha.
A prima que não é prima, porque é irmã da prima, mas não é filha da tia, também se juntou a conversa:
- E sua mã..., ops, ai, desculpe, e o tempo? Tá quente hoje, não?
- A minha mãe? Ela não vem. Ela não é mais casada com meu pai. Já faz tempo, anos. É, tá quente mesmo. Calorzão, dezembro, verão!
- Olha, desculpe, não ia perguntar.
- Sobre minha mãe? Pode perguntar. Ela não morreu, ela só separou do seu tio (que não é seu tio, porque você não é filha da minha tia).
- Vamos, pessoal, a ceia está na mesa! Feliz natal a todos!
- Feliz natal!
E assim, em mais um ano, ela fez tudo igual. Foi a casa da tia passar o natal com o pai, foi sem namorado, conversou com os familiares, brincou com as crianças, bebeu um pouco, porque ninguém é de ferro, e voltou pra casa. Sentou na cama da mamãe, que também tinha acabado de chegar, e ficaram lá, conversando sobre como nada mudou. E nunca vai mudar, porque natal é natal. É tempo de estar com a família.


domingo, 24 de dezembro de 2006

Feliz Natal


Que os homens continuem sonhando com Ferraris superpotentes, com o Ronaldo fazendo gols e com a Angelina Jolie na cama! E as mulheres continuem amando a manicure, as liquidações e a idéia de casar com o Brad Pitt!
Que todos sejam felizes com seus desejos e vontades!
E que, em 2007, cada um tenha no coração, saúde e amor, e no bolso, um bilhete premiado da loteria!
Feliz Natal a vocês!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

O policial militar Marcelo da Silva, 36, foi preso em flagrante no fim da noite de quarta-feira (20) após depredar a suíte do motel Queen, na estrada do Catanho, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio). Segundo informações do 14º BPM (Bangu), Silva teria agredido a mulher que o acompanhava, cujo nome não foi revelado.

Quer dizer que o cara foi preso num motel chamado Queen, numa estrada chamada do Catanho e o flagrante foi dado pela delegacia de Bangu? Lá em Jacarepaguá? Longe pra cacete (desculpe o trocadilho)!
Não, não pode trair assim, meu filho. Que traição mais cafona, mais pobre é essa?
Por que você não esperou o Carnaval? Tá perto. Carnaval, sim, é época de poder fazer besteira. Natal é tempo de família, não pode dar um vexame desses!
Parar na delegacia de Bangu? Que coisa mais feia! Bater na fulana, quebrar o quarto? Que isso, menino?
Tinha hidro no motel? Piscininha? Por que você não foi dar uma relaxada? Depois tentava de novo. Mas quebrar tudo e ir parar na delegacia de Bangu 3 dias antes da chegada do bom velhinho? Que sacanagem, hein!
E sua mulher, como é que fica nessa história? Tá certo que ela gosta de ser notícia, mas de ser corna ninguém gosta. Tudo bem que ela casou com um cara bem mais novo, PM, fanfarrão, mas, poxa, isso não se faz.
Ela fez tanta coisa por você. Vocês sairam na Caras, tiveram um festão de casamento na casa de um conhecido meu, que eu tô sabendo, foram lá pro Caribe, depois sairam na Caras de novo. Aposto que você ia passar o Reveillon na casa de algum famoso! E agora você dá uma dessas? Num motel chamado Queen? Vai ser cafona lá longe!




terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Devo, não nego...

- Boa tarde. Você pode me dizer se eu tenho pontos acumulados para vocês me darem um celular novo?
- Só um minuto, senhora. Estarei verificando.
(Eu te perdôo por todos os gerúndios do mundo, mas por favor, não me chame de senhora. Me sinto uma velha de bengala escarafunchada no sofá da sala)
- Pois não, eu espero.
- Senhora, obrigada por estar aguardando. A senhora não está possuindo pontos no momento. Mais alguma informação?
- Sim, senhora. Quero saber porque não tenho pontos e nem direito a um celular novo se pago uma fortuna por mês de celular.
- Senhora, estarei verificando novamente. A senhora pode confirmar seu CPF, data de nascimento e endereço.
- Sim, posso. Você me fala os dados que você tem aí sobre mim e eu te confirmo.
- Senhora, eu não tenho autorização para estar te fornecendo os dados dos nossos clientes.
- Sim, mas a cliente, no caso, sou eu e você pediu para que eu confirmasse. Mas ok, te falo os meus dados.
- Obrigada , senhora. Estou verificando no meu sistema e a senhora está em débito com nossa operadora. E por isso perdeu o direito a pontos, a promoções e a novos aparelhos no momento.
- Eu estou em débito? Como assim? Minha conta de celular cai em débito automático. I-M-P-O-S-S-Í-V-E-L, meu bem. Você pode "estar verificando" novamente?
- Senhora, aqui está constando um débito de março de 2006.
- Então quer dizer que eu estou devendo há 10 meses uma conta e vocês não cortaram minha linha e nem colocaram meu nome na lista dos maus pagadores?
- Senhora, só um momento, estarei verificando... Sim, a conta de março não esteve sendo paga.A senhora comprou uma linha da nossa operadora em fevereiro?
- Sim (infelizmente)...Mas coloquei em débito automático. Tá certo, você pode me passar o valor para eu "estar verificando" no meu extrato de março? ( Onde eu enfiei meu extrato de março????)
- Sim, senhora. A senhora deve R$1,86.
- 1 real e oitenta e seis centavos?????
- Sim, senhora. A primeira conta não é debitada automaticamente. A senhora tinha que estar pagando no banco....



sábado, 16 de dezembro de 2006

30 de maio de 2006


Se ela contar pra melhor amiga, a melhor amiga vai achar que é louca. Se ela contar pra aquela amiga mais ou menos, a amiga mais ou menos vai dizer que ela tá carente. Se ela for na cartomante e perguntar, a resposta vai ser: minha filha, calma, o homem da sua vida ainda está por vir... Se ela decidisse tentar achar respostas na sala da terapia, ia se sentir ridícula.
Mas o fato é que ela não consegue esquecer daquele homem, aquele mesmo que ela só viu por 20 minutos. Aquele que mexia o copo de whisky e não tirava os olhos dela, enquanto ela bebia uma long neck no gargalo. Aquele com o casaco marrom, que olhava pra ela sem parar enquanto ela ajeitva o cachecol de patchwork da vovó. Aquele mesmo que ela passou do lado quando estava indo embora e ouviu um: - oi, já vai? Fica mais um pouco - com um sotaque que dizia que ele não era daqui, e por isso, talvez, fosse embora no dia seguinte. E então ela não foi, ficou mais um pouco, um pouco suficiente pra ela ver o quanto ele era bonito, pra ver que o telefone que ele tinha dado tinha muitos números e começava com 00, e que com certeza ele não era daqui. E que talvez nem fosse desse planeta. Não podia ser desse planeta um homem daqueles!
Nesse dia ela estava muito bonita e outros homens também tinham pedido pra ela ficar mais um pouco: - Toma mais uma cervejinha...- Mas ela não quis nenhum, quis o homem do outro planeta, o que ia embora no dia seguinte, porque ela tinha certeza que ia encontrá-lo de novo.
Conversaram mais um pouco, dessa vez na calçada, enquanto ela esperava o carro e ele, talvez, um taxi. Ele insistiu pra ela ficar mais um pouco com ele, mas ela não quis. Nem conhecia o cara! E ele nem era desse planeta. E foi embora. Com um beijinho no rosto dele. Ela não lembra se foi um ou dois beijinhos, mas lembra que ele mais alto que ela uns 20 cm. Perfeito, ela pensou!
No dia seguinte ele ligou. Ela estava atolada de trabalho e nem ouviu o celular tocar. Ele ligou de novo. Aquele monte de número apareceu na tela e ela correu pra atender. E ele já estava longe, no mundo dele. Mas querendo falar com ela. E ela também queria falar com ele. Falar sobre a vida, sobre as coisas, sobre nada. Como se ele ligasse todos os dias, há anos. Como se falar com ele fizesse parte da rotina dela.
E eles passaram a se falar sempre. Já não era mais sacrifício pra ela acordar meia hora antes pra conversar um pouquinho no msn. Nem mau humor mais ela tinha de manhã. Não era sacrifício pra ele burlar as regras do trabalho e instalar um msn. Porque era bom falar com ela, era bom ela estar por perto. E o telefone dela tocava. E eles conversavam sobre o tempo, sobre a Copa do Mundo, sobre a praia, sobre fuso horário, sobre o Brasil, sobre tudo.
Um dia, como toda mulher que se preze, ela quis saber o signo dele. Capricorniano, como ela.
- De que dia?
- 16 de janeiro.
- Mas quem nasceu em 16 de janeiro fui eu!
- Eu também.
Os dois já não entendiam mais nada. Além de tudo, tinham nascido no mesmo dia?
Se naqueles tempos, Deus perguntasse se ela queria ganhar na megasena ou encontrar com ele de novo, ela saberia a resposta. Porque ela tinha certeza de que 20 minutos tinham sido muito poucos.
Naquela noite, só os loucos saíram de casa. Os loucos e os corajosos, porque a cidade estava às moscas depois de mais um ataque do PCC. Os loucos, os corajosos e as pessoas que por algum motivo, precisavam se conhecer. Algum motivo inexplicável, que na cabeça dela, pode ter sido uma simples coincidência ou obra do destino. Nem ela sabe. Só o que ela sabe é que nunca mais se viram e nem se falaram, e que daqui há um mês os dois estarão comemorando seus aniversários. Cada um no seu mundo. Cada um com seus presentes, com seus wiskhies, suas cervejas.
A vida dela continuou, outros homens ficaram com ela por muito mais que 20 minutos, o telefone dela tocou e ela não conseguiu atender porque estava atolada de trabalho, ela saiu em algumas outras noites frias e perigosas, mas ela nunca entendeu porque conheceu aquele homem. Ela não quer entender, ela só queria encontrá-lo.
E outro dia, assistindo The Lake House no quarto dela, ela chorou. Talvez de cansaço, talvez porque estava naqueles dias, talvez porque natal deixa ela assim, chorona mesmo, ou porque, talvez, ela é capricorniana, mas não é tão fria quanto parece. E porque ainda busca respostas para a pergunta que faria a cartomante. Mesmo não acreditando em cartomantes.




sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Mundo moderno

- Vai ali, vamos tirar uma foto! Vai, junta todo mundo!!!
Click!
- Ai, deixa eu ver?
- Eu também quero ver!
- Eu também!
- Putz, não fiquei bem. Pisquei.
- Ah, eu também não gostei de mim! Meu sorriso ficou torto.
- Vamos tirar outra?
- Vai, junta todo mundo ali.
Click!
- Deixa eu ver?
- Também quero ver!
- Putz, não fiquei bem, pisquei.
- Ah, eu gostei, fiquei ótima!
- Manda por email?
- Descarrega e me dá um CD?
- Vamos tirar mais uma pro orkut?
- Vamos! Junta ali!
- Falando em orkut, você viu a foto nova que aquela piranha colocou? Ficou péssima, gorda, brega, o cabelo tá horrível!
- Menina, eu vi. Tá h-o-r-r-o-r-o-s-a! Será que essa cafona não tem câmera digital?
- Claro que não tem! Isso é coisa de câmera velha, de filme!
- Vai, gente, junta ali pra gente tirar mais uma foto!
Click!
- Ai, essa luz realçou minha rugas, vou trocar de posição, daí você tira mais uma?
- Agora uma pro messenger, vamos lá, pessoal!

Há alguns anos atrás:
- Vamos ali na mesa da cozinha que a luz é melhor. Mãe, pega uma caneta!
- Eu acho que é a 12A?
- Que nada, é a 13 sem letra.
- E essa, é qual?
- Essa é a 27A. Lembra que a gente bateu no final? Então, é da 25 pra lá.
- Vai anotando nesse guardanapo qual é qual pra fazer as cópias, menino!
- E esses pretinhos, quem são?
- Que pretinhos, sua anta? Esses são você e o vovô. É negativo, esqueceu?
- Ih, essa última cortou, acho que queimou quando voltamos o filme.
Saía até briga pra ver quem ia levar os negativos primeiro. A tia emprestava pro vizinho, que emprestava pro cunhado, que emprestava pra vó, que emprestava pra prima, que enfiava em algum canto e só ia achar anos depois, na arrumação pra mudança de casa. Mas era bom ver um piscando, o outro bocejando, a outra esperando o flash acender pra sorrir. Tempos que não voltam!



Pegadinha?

"O Planalto evitou criticar diretamente o aumento. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, disse que não sabia ainda do reajuste. "Eu não sei, minha filha. Você faz uma pergunta de coisa que eu não sei o que aconteceu", disse ele após cerimônia de sanção da lei geral das micro e pequenas empresas." Link Folha online

Olha aqui, ô meu filho, eu trabalhei até agora, tô irritada e vou te falar:
Tome vergonha nessa sua cara e comece a governar este país, pelo amor de Deus.

Você tem coragem de dizer que não sabia de novo? Poxa, você nunca sabe nada! Em que mundo você vive? Para com isso, por favor! Para de achar que todo mundo é tão idiota quanto você!

E o valor do salário mínimo, você sabe? Mas eu te digo: R$350,00. Trezentos e cinquenta reais! O que você faz com 350 reais? Nada, não é mesmo? Mas tem gente que faz. E com menos que isso. Essa mesma gente que te elegeu. Esse bando de miseráveis que você compra com suas cestas básicas e suas bolsas-isso, bolsas-aquilo. Sabe, Presidente, tem gente que morre neste país porque não tem o que comer, você sabia? Tem gente que rouba porque não tem emprego, você sabia? Ah, não, você não sabia. Você nunca sabe.

Já passou pela sua cabeça que tem gente que nunca tomou água potável na vida? E nunca vai tomar. Nunca vai tomar leite, comer carne, comprar uma pasta de dentes. Sabe por que? Porque você tá pouco se ferrando para essas pessoas.

Você sabe o quanto eu tenho que trabalhar pra pagar minhas contas? Bem mais que você, e olha que incrível, eu sei mais coisa que você, Sr. Presidente. Eu sei que os parlamentares aumentaram em 90% os seus salários, mas você não sabe. Onde você estava quando fecharam esse acordo?

Olha Presidente, eu me orgulho de nunca na vida ter te dado confiança. Porque, nessas horas, eu sinto vergonha de ser brasileira. Eu sinto vergonha de morar num país governado por um cara-de-pau, indecente e desonesto como você.

Você sabe quanto eu pago de plano de saúde por mês, Sr, Presidente? Sabe por que eu pago? Porque eu não tenho coragem de ir a um Hospital público nem buscar um band-aid. Sabe quanto eu gastei em faculdade? Porque na minha cidade só existe uma Universidade pública decente. Sabe quanto eu gasto pra manter meu carro? Porque onde vivo não tem transporte público suficiente para a população. Sabe, Presidente, pra você pode não fazer diferença, mas para os brasileiros faz e muita perder 1.600.000.000 bilhões dos cofres públicos para pagar salário de parlamentar. Voê sabe o que é 1 bilhão? É um bom começo...

Olha, Presidente, eu vou dormir de mau humor e a culpa é sua! A culpa é toda sua! Você não merece estar aí e eu naõ mereço viver num país governado por você.

Pronto, falei!


quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Não pode elogiar

Ando cansada demais pra conseguir distinguir o bom do ruim.
Tem 8 textos aqui salvos aqui como rascunho e nenhum em condição de ser publicado.
Escrevo um: médio. Outro: meia-boca. Mais um: putz, Juliana...
Aí vou ler alguma coisa: continuo no nada. Ver tv: xiiiiiiii, piorou. Inspiração zero!
Tento lembar de alguma história: cadê as histórias? Sumiram dessa cabeça zonza de tanto trabalho.
Pronto, vou falar sobre o mais novo hábito maculino? Tirar a camisa na balada. Não que eu vá nesse tipo de balada. Eles é que vão na minha. Não, não quero falar desse assunto. Só de imaginar aqueles moleques saídos da adolescência tirando a regatinha no meio da pista já me dá sono. Zzzzzzzzzzzzzzz.......
Vou escrever sobre Turistas, o tão falado filme. Vou meter a boca no Brasil. Ai, não vou não. Falar mal do Brasil me dá preguiça. E não sou crítica de cinema.
Vou contar da aventura de pedir um suco de laranja na Bahia. Mas é demorado. E eu ando sem tempo.
As únicas histórias que tenho pra contar são sobre o meu trabalho, mas tô proibida por mim mesmo de falar sobre isso aqui neste blog. Pelo bem do meu emprego.
Então vou continuar aperfeiçoando os rascunhos, com a certeza de que uma hora esse cansaço passa, a correria do natal acaba e eu vou lotar isso aqui de texto de novo!


segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Lista de Natal

Até a semana passada, eram 3 presentes. Só para os sobrinhos. Já estava decidido. Até minha irmã ligar:
- Olha Ju, não compra nenhum livro até o natal, porque vou te dar um, ok?
- Ahan, pode deixar, não vou comprar...
Pronto, vou ter que dar presente para a minha irmã que foi tão fofa de me comprar um livro.
Mas eu tenho outra irmã. E a listinha sobe pra 5 presentes. Minha irmã tem uma enteada. Já são 6, porque não sou uma bruxa má de comprar presente para os sobrinhos e deixar a enteada da irmã esperando no sofá, com cara de tacho.
Bom, 6 presentes tá bom. Trim, trim:
- Alô.
- Oi Ju, que número você calça?
Meu cunhado, um dos, porque tenho dois.
- Calço 35 ou 36, depende. Mas é pro natal? Ah, não se preocupe. Eu não vou dar presente pra ninguém esse ano....
Já são 7 presentes. Quer dizer, 8, porque se vou dar presente pra um cunhado tenho que dar pro outro também.
- Filha, lembra daquele biquini que você amou? Aquele de oncinha pink?A mamãe vai comprar pra te dar de natal, viu?
- Ah, mãe, jura? Que ótimo!!!!!!
Já não sei mais se a lista cresceu pra 9 ou 10, mas de qualquer forma, tem que dar presente pra mamãe e pro papai. Aliás, natal é natal e mamãe e papai não podem ficar de mãos abanando.
A moça que trabalha aqui em casa, que poderia ser chamada de santa não pode ficar sem nada. Mais um presente. O filho dela de 6 anos espera o ano inteiro para ganhar algum brinquedo ótimo da patroa da mãe. E a lista sobe pra 12.
Quando eu achei que estava tudo resolvido, minha tia ligou oferecendo a casa dela para a ceia. Nada que um presentinho não retribua a delicadeza. Afinal ela vai passar uma semana assando peru, fazendo tender, lasanha, enfeitando a árvore, tirando a louça empoeirada do armário. Um cinzeiro, uma bandeijinha, uma lembrança, e lá se vão 13 presentes.
Bom, acho que acabou. Fechei a lista. Sem contar a caixinha do jornaleiro, do manobrista que estaciona meu carro todo dia, do porteiro, do zelador, da manicure, da cabelereira, da massagista.....
Se sobrar algum trocado, quem sabe compro alguma roupinha para passar o ano novo.

domingo, 10 de dezembro de 2006

tipo folgada

Vou escrever sobre o cansaço. Não o cansaço de estar trabalhando há 12 dias seguidos, sem folga. Sobre o cansaço de pessoas. Pessoas folgadas, mais precisamente.
Ela sempre foi e continuará sendo uma espécie de gente egoísta. Faz quase tudo sozinha, só pra não dever favor para os outros.
Mas como toda boa egoísta, ficava com a consciência pesada. Virava e mexia, tinha a sensação de que deveria ser mais "boazinha".
- Eu sei que você está ao lado da sua casa, que são 3 da manhã, que você vai acordar cedo pra trabalhar, mas custa você me levar até o Morumbi?
- Custa....
E o "custa" virava um martelo na cabeça dela no dia seguinte. Pensava:
- Poxa, custava você sair do seu caminho às 3 da manhã, bêbada, e levar a menina até o Morumbi?
Pronto, era o bastante para acabar com o seu dia.

- Você pode trabalhar até mais tarde hoje pra mim porque eu marquei de tomar uma cerveja com o paquera novo?
- Putz, nem vai dar. Eu também marquei manicure daqui há 5 minutos. Aliás, tchau!
Pronto, e ela virava o monstro!
- Ai, coitada, é paquera novo. Se eu não fizesse a unha hoje, só ia arrumar tempo pra fazer na semana que vem, mas o que é meu esmalte descascando perto do paquera novo dela? Ela deixou de sair com ele por conta da manicure que eu não quis desmarcar.

- Queridinha, posso pegar o elevador social com o meu cachorro? O de serviço tá demorando muito. Devem estar tirando o lixo.
- Não, não pode. Eu não quero descer no elevador com o seu cachorro. Eu tenho medo de cachorro e não vou ficar nesse cubículo com ele por 12 andares. Espere o de serviço. Ou saia mais tarde.
Lá vinha o martelo de novo na sua cabeça. E ela falava pra ela mesma:
- O que custa o cachorro descer pelo social? Como você é egoísta. Ele nem morde. Coitada, o de serviço está demorando.

- Eu sei que macamos às 10, mas eu ainda não estou pronta. Atrasei um pouco, de novo. Você não quer achar uma vaga, subir e esperar eu terminar a chapinha?
- Puta que pariu!! Aqui, nessa rua, onde não tem uma vaga pra estacionar, onde eu vou ter que dar 2 voltas no quarteirão, parar o carro, guardar o rádio, me anunciar para o porteiro, esperar o elevador e subir pra ficar no sofá esperando voê terminar a chapinha? Faz o seguinte: eu vou indo e nos encontramos lá.
Custava esperar a sua amiga alisar pela décima vez o cabelo?

Pessoas folgadas! Pessoas que sempre dão um jeito de fazer com que a culpa seja dos outros. A culpa é sua que não esperou, que não quis pegar o mesmo elevador, que não deu carona às 4 da manhã, bêbada, que não desmarcou a sua manicure. É uma gente que sempre que levar alguma vantagem em cima de você. Sempre quer ser mais esperta, mais malandra.

Tem uma frase que a deixava bem irritada: me liga.
- Eu sei que te magoei, mas quero conversar. Me liga.
- Ora, me liga você! Pegue o telefone e me ligue. Se é você que quer conversar, me ligue você.
Era o tipo de gente folgada, que sempre pedia coisas para os outros. Pedia até para o outro decidir quando teriam tal conversa.

- Será que você pode achar pra mim o site da Receita e ver se minha restituição caiu?
- Mas você está na frente do computador. Eu também não sei o site. Procura aí.
- Mas custa você procurar? É só ir no google.
- Custa...

É um tipo de gente folgada!

Grinch

Deus, me dê inspiração! Faz com que eu consiga terminar os 7 textos que estão aqui salvos como rascunho. Faça minha patroa me dar férias. Faça com que eu não tenha mais insônia, mas se tiver, que na tv não esteja passando somente programas de exorcismo ou reprise do Saia Justa. Deus, faça meu dinheiro render para eu conseguir comprar os 16 presentes que tenho que dar. Faz eu conseguir remarcar minhas massagens que estão suspensas por falta de tempo. Deus, cale a boca da criatura que trabalha comigo e que passa o dia falando da vida alheia no meu ouvido. Deus, faça o Ceagesp estender os horários de funcionamento, porque eu não mereço acordar às 5 da manhã para comprar flores.
Deus, se nada disso estiver ao seu alcance, porque eu sei que fim de ano é fogo pra Você, pelo menos me dê sol no fim-de-semana que vem!
Amém

segunda-feira, 4 de dezembro de 2006

Chega a ser engraçado






domingo, 3 de dezembro de 2006

Ser mulher parte 4

- Vira assim. Isso... Bate, bate, bate! Mexe! Bate mais, só mais um pouquinho. Vai, vai! Bate pra sair aquela coisa branca aí de dentro! Saiu? Então vai rápido, mete a mão aí embaixo e passa ali. Vai, que só tem isso! Depois, ó, acabou e eu vou dormir.
- Porra!!! Como é que acaba o shampoo assim? Comprei outro dia, tava cheio. Garanto que o shampoo da Luana Piovani não acaba.
- Hahahahahaha, você é louca! O que a Luana Piovani tem a ver com a sua falta de shampoo?
- Nada. Mas por que as coisas de mulheres normais são diferentes? G-a-r-a-n-t-o que a Luana nunca ficou sem shampoo no meio do banho. Ou você já imaginou a Luana dando tapa na bunda do frasco de shampoo pra aproveitar a última gota?
- Não. Já imaginei a Luana fazendo outra coisa, mas isso não. É que ela não é mulher normal, esqueceu?
- Ela é mulher normal sim. Vivia dizendo no Saia Justa que tem a bunda cheia de celulite, tá!
- Não, ela não é mulher normal. Ninguém que namora o Dado Dolabella pode ser normal.
- Isso é verdade. Mas será que em casa ela é mulher normal? Será que ela enche a garrafa de água quando acaba? Será que a garrafa de água dela acaba?
- Bom, você não enche e é mulher normal. Alguma vez você encheu a garrafa de água?
- Não, mas eu sou mulher normal. Por exemplo, eu chego em casa, janto e assisto ao Jornal Nacional. Duvido que a Luana chegue em casa, jante e assista ao Jornal Nacional.
- Desde quando você assite ao Jornal Nacional?
- Ah, às vezes eu assito. Sou mulher normal.
- A Luana também às vezes assiste.
- É, mas eu não tenho vídeo no youtube dando no mar da Espanha. A Luana tem.
- Que Luana, que Luana? É a Cicarelli que tem! A Cicarelli que deu na Espanha.
- Tá vendo. Esse assunto até me confundiu. Cicarelli, Luana... é tudo a mesma coisa.
- Gente anormal, né, Ju.



sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

H. I. V.

Há alguns anos, uns 12 atrás, fui obrigada a presenciar o fim de uma vida.
Talvez, há 12 anos atrás, o cansaço maior fosse por lutar contra os preconceitos, as perguntas, os risinhos, os nojos, os "não coma no meu prato, não beba no meu copo", e tantos outros absurdos causados por uma doença estigmatizada. Uma doença que só "consumia" Cazuzas, Rock Hudsons, Sandras Bréas, o drogadinho do 5° andar, o viadinho da rua do lado.
Era uma época meio sem remédios, sem informações. Uma época em que até quem não tinha fé pedia por milagres. Um milagre que fosse. Pedia por um pouquinho mais de tempo, um pouco mais de amor, um pouco mais de vida normal. Só o que se queria era não ser demitido do trabalho, era poder continuar tomando umas biritas, era poder viajar de avião e encostar sim no cara da poltrona ao lado. Porque não era justo morrer porque viveu como quis, mesmo se esse "como quis" fosse fora dos padrões. Não era justo pagar o preço por ter tido uma outra opção sexual. Era só uma opção sexual. E isso ofendia tanto, mas tanto, que até uma doença só dele ele tinha. Doença de gay.
Era uma época em que só um hospital o aceitava como paciente. Já imaginou estar doente, e só ter um hospital em São Paulo onde você possa se tratar? Numa cidade desse tamanho? Não era justo.
Era uma época em que a família se reuniu no seu último natal vivo e não pode perguntar: você está bem? Você precisa de ajuda? Porque não se perguntava. Porque não podia saber. Porque, simplesmente, esse assunto não podia ser falado na noite de natal. O máximo que se fazia era fechar a janela, no calor de dezembro, pra "ninguém" pegar friagem. E em nenhuma outra noite e em nenhum outro dia esse assunto foi falado.
E ele ia morrendo aos poucos, esperando por um milagre, com uma angústia que consunia os poucos quilos que restavam naquele corpo doído e todo machucado por feridas e picadas de hospital.
Desde então, os natais da família são comemorados sem música. Os barulhos são de estouro de champanhe, de presentes sendo abertos, de crianças correndo e adultos contando piadas, da empregada abrindo e fechando o forno, e de velhos roncando no sofá depois da ceia. Mas música nunca mais se ouviu. Há 12 anos. Porque naquela época, quem escolhia os discos era ele.

1° de dezembro, dia mundial de luta contra a aids.