o pudim
Nunca comi pudim de leite moça. Quer dizer, comi quando tinha uns 8, 9 anos, por insistência da mãe da amiga da escola que me obrigou a engolir aquela sobremesa que ficava rebolando na travessa.
- Come, Juju. Criança tem que comer tudo. Eu sei que você quer. Não seja tímida, não faça cerimônia. A titia vai por pudim no seu pratinho, tá, benzinho.
Aquilo foi quase um estupro gastronômico. Aquela velha enfiando o pudim no meu pratinho contra a minha vontade. Se fosse hoje, ia dizer: - No meu pratinho, não!! No meu pratinho ninguém encosta! Mas eu era criança e só consegui falar:
- Eu não quero, obrigada. Essa coisa rebola. Não quero, por favor.... E comi. E vomitei. E nunca mais comi.
Eu tenho pavor de pudim. Tenho pavor daquela coisa rebolenta, com aquela calda com cor de cocô. Não como nem que me paguem. Traumatizei.
Aí outro dia encontrei um amigo:
- Ju, meu namorado nunca comeu uma mulher! Ele tem que comer pra saber que não gosta.
- Como assim? Você quer que o seu namorado saia uma mulher?
- É, Ju. É que nem bacalhau. Você tem que comer pra saber se não gosta. É que nem jiló, entendeu?
- Entendi.
E contei pra ele a história do pudim de leite moça rebolando no meu pratinho.
- Às vezes, você pode até comer, mas se for ruim, você provavelmente vai esquecer o gosto. De que adianta comer, então? É o tal do feeling, sabe? Você nunca comeu, mas sabe que não vai gostar. É como o vizinho do terceiro andar, você nunca comeu e sabe que não vai gostar. É que nem mulher. Ele nunca comeu e sabe que não vai gostar daquela coisa rebolando no pratinho dele.